Como conclusão do exercício reflexivo, construimos um texto com nossas reflexões. Segue abaixo:
Texto Base: FÁVERO, Leonor L. ANDRADE, Maria Lúcia C. V. AQUINO, Zilda G. O. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna. 6. Ed., São Paulo: Cortez, 2007.
Nossos alunos chegam ao espaço escolar já dominando a fala da língua materna e essa nos primeiros anos escolares será toda a base para a representação gráfica dos sons. Por esses motivos a fala deve ter destaque no ensino da língua. Precisamos entendê-la mais profundamente.
Na organização da fala e da escrita, as autoras apresentam elementos que constituem o processo conversacional e caracterizam a atividade conversacional como uma atividade onde duas pessoas ou mais se comunicam entre si de forma alternada, dialogando sobre um determinado assunto do cotidiano. O modelo de organização conversacional, idealizado por Ventola (1979) compõe as variáveis: tópico ou assunto, tipo de situação, papéis dos participantes, modo e meio do discurso. E esses constituem:
Tópico ou assunto: é o tema da conversa, o que se comenta no diálogo entre os participantes.
Situação: É a ocasião da conversação onde os participantes se comunicam verbalmente e/ou não. Pois além do que está sendo falado, os gestos e expressões podem afetar a conversação. Por isso os participantes devem estar atentos a todos os detalhes.
Papéis dos participantes: É o comportamento, determinado pela situação, dos participantes. É a partir disso que a linguagem vai se adaptar. Ex.: No trabalho nos comportamos de uma forma e durante uma recreação de outra.
Modo: É a forma como a linguagem se mostra, dependendo do contexto. Dependendo, o discurso pode ocorrer formal ou informalmente.
Meio: É o canal de comunicação por onde ocorre a conversa. Pode ser: face a face, via telefone, internet, etc.
Para exame do texto falado temos as contribuições de Dittmann(1979), que considera as seguinte características básicas: interação entre pelo menos dois falantes, ou seja, visto corresponder a uma atividade social, o texto falado requer a coordenação de esforços de pelo menos dois indivíduos. Ocorrência de pelo menos uma troca de falantes, ou seja, há um diálogo. Presença de uma seqüência de ações coordenadas, há uma seqüência de assunto, por exemplo, você fala e a pessoa responde ou comenta sobre o mesmo assunto abordado anteriormente. Execução num determinado tempo e envolvimento numa interação centrada, a interação depende de um equilíbrio de forças envolve a troca de idéias e deve ser centrada num determinado assunto ou tema.
A fala se estrutura nos níveis global e local. O nível local consiste a conversação que ocorre por meio de turnos (sucessão da fala de um participante após o outro). Por exemplo:
Criança 1: Vamos brincar de casinha?
Criança 2: Vamos sim. Na minha casa ou na sua?
Criança 1: Aqui em casa mesmo.
Já o nível global além da organização local, ocorre também uma formulação textual que obedece a regras, sobretudo a respeito da condução do tópico discursivo. O assunto vai sendo ampliado. É posto elementos novos e a conversa fica mais ampla. Por exemplo:
Criança 1: Vamos brincar de casinha?
Criança 2: Mas você tem boneca?
Criança 1: Eu tenho.
Criança 2: Como são suas bonecas?
Criança 1: Eu tenho Barbie, tenho bebês, tenho a que anda.
Criança 2: Você tem aquela que come papinha?
Criança1: Tenho.
Criança 2 : Eu também tenho. Teve um dia que eu brinquei com ela e sabe o que aconteceu...
O texto falado, bem como o texto escrito, para constituir a textualidade, necessita de alguns fatores: a coesão e a coerência. Segundo as autoras, no texto conversacional, a análise dos elementos de coesão deve ser feita de forma específica. Os recursos coesivos mais freqüentes são a coesão referencial, recorrencial ou seqüencial. Coesão Referencial: Nesse recurso a autora destaca a reiteração do mesmo item lexical, ou seja, há repetições no texto e isso favorece a coesão no texto falado. Ou seja, repete-se a referência.
Exemplo:
Participante 1: Hoje comecei um curso. Você deve conhecer. É aquele curso que fica perto do supermercado. É um dos melhores cursos. E pela aula que tive hoje acho que o curso é bom mesmo. Já ouviu falar desse curso?
Coesão recorrencial: Nesse recurso, destaca-se a presença de paráfrase como elemento coesivo, ou seja, substitui-se a referencia por um termo equivalente.
Exemplo:
Participante 1: Tenho aula hoje.
Participante 2: Você vai estudar hoje?
Coesão seqüencial: Nesse recurso, destaca-se a presença de conectores, que podem ser preposições que fazem ligações no discurso.
Exemplo:
P1: É importante a gente estudar, né?
P2: Muito
P1: É tão diferente o comportamento e o pensamento de quem estuda né?
P2: É verdade. Um dia estava reparando isso... Você já viu eles... Eles são assim mesmo, né?
O texto aponta que há quatro elementos básicos que contribuem para a estruturação do texto falado. Estes elementos são o turno, o tópico discursivo, os marcadores conversacionais e o par adjacente.
Turno: É a produção de um indivíduo quando ele está com a fala numa conversa. Mas pode ser caracterizado também pelo silêncio ou breves sinais de monitoramento como ahn ahn, sei, certo etc. Numa conversação há alternância de turnos.
Exemplo:
Criança 1: Vamos brincar de casinha?
Criança 2: Vamos sim. Na minha casa ou na sua?
Criança 1: Aqui em casa mesmo.
Nesse exemplo vemos a alternância de turno de uma criança para outra.
Tópico discursivo: é definido como aquilo sobre o que está sendo falado, é o assunto da conversa, o que sistematiza, o foco da conversa. Segundo o Projeto da Gramática do português Falado no Brasil o tópico discursivo apresenta as seguintes propriedades: Centração – é o foco, o assunto, organicidade – é a sistematização da conversa, o respeito de uma seqüência. e delimitação local – a conversa tem início, meio e fim. Vejamos:
P1: Qual a sua comida favorita?
P2: Lazanha e a sua?
P1: Que coincidência, eu amo lazanha também. A mais gostos que eu já comi foi naquele restaurante.
Fica claro que o tópico discursivo nessa conversa é “Comida favorita”. Esse é o assunto que estrutura a conversação entre P1 e P2.
Marcadores conversacionais: Designa elementos verbais , prosódicos e não lingüísticos que desempenham uma função de interação da fala. É o que dá reforço para conversa. E durante a conversação podem ser produzidos pelo falante ou pelo ouvinte. Exemplo de marcadores: ahn ahn, sei, certo, uhn, viu? né?, um riso, um olhar, uma gesticulação, pausas, alongamentos e o tom de voz. Um olhar incisivo pode significar o encerramento da conversa. Marcuschi elaborou uma sistematização dos marcadores verbais:
Marcador simples: Uma só palavra. Ex: Então, aí, claro...
Marcador composto: apresenta caráter sintagmático com tendência a cristalização: Ex: e daí, digamos assim, quer dizer...
Marcador oracional: Corresponde a pequenas orações: eu acho que, então eu acho...
Marcador prosódico: Entonação, pausa, hesitação, tom de voz entre outros.
P1: Quer dizer que foi assim que aconteceu?
P2: mas não diga pra ninguém...
P1: e daí você viu não viu?
P2: Daí que se...
Par adjacente: É o elemento básico de interação. Pode ser: pergunta-resposta, convite-aceitação ou recusa, pedido-concordância ou recusa, saudação-saudação.
Exemplo:
P1: Olá tudo bem?
P2: Tudo bem e você?
P1: Bem, graças a Deus.
O Par adjacente pode ser usado como introdução de tópico- início da conversação, continuidade de tópico- continuar a conversação, redirecionamento de tópico- quando houver uma digressão do tópico pode ser usado para retorno do mesmo e mudança de tópico- mudar o tópico da conversação.
O texto foi bastante enriquecedor, pois aborda um assunto pouco difundido no nosso curso. Nos mostrou que oralidade e escrita se relacionam sim, mas que se estruturaram muitas vezes de formas bem diferentes. Assim, o estudo da fala para futuros alfabetizadores que devem privilegiar a língua falada no ensino da língua, nos habilita a mostrarmos aos nossos alunos a variedade do uso da fala, que existem vários níveis (formal, informal e podemos incluir a linguagem singular da internet) e suas modalidades (escrita e falada).