Iniciamos a consideração do texto Práticas de Linguagem Oral e Alfabetização Inicial na Escola: Perspectiva Sociolingüística escrito por Erik Jacobson, capítulo 6 do mesmo livro que trabalhamos anteriormente de Ana Teberosky e Marta Gallart. O texto traz a questão que as crianças durante seu desenvolvimento e mesmo antes de iniciarem a vida escolar se socializam todo o tempo com leitores e escritores nos diversos ambientes sociais de suas comunidades, por isso as escolas devem organizar as práticas de leitura e escrita de acordo com a realidade de seus alunos. Quando isso acontece, a transição família escola ocorre mais facilmente e ao contrário acarretará em maiores dificuldades. Porém não encontramos em uma sala de aula uma única realidade, mas muitas e por isso, os docentes devem desenvolver no espaço escolar a chamada “múltiplas alfabetizações”.
A opção linguística e a estrutura do processo de alfabetização difundidos nas escolas de um país não são neutros, são escolhidos segundo uma relação de poder, é selecionado o que tem valor e o que não tem valor para a classe dominante, para dessa forma garantir e sustentar as diferenças que estratificam a sociedade.
O autor defende que para o sucesso escolar e para contribuir para mudanças políticas, professores e professoras devem se preocupar em usar a língua na escola de uma forma similar do uso da língua nas casas. Não há um único modelo é essencial o reconhecimento da existência de múltiplos discursos e valorizá-los igualmente na prática.
O texto apresenta uma experiência interessantíssima de um programa realizado nos Estados Unidos com uma classe pré-escolar. Foi proposto as crianças jogos livres relacionados com a leitura e escrita. Nesses as crianças relacionavam a capacidade de ler e escrever a práticas de uma consulta de doutores e um restaurante. Acredito que tudo tenha sido desenvolvido como uma grande brincadeira, de forma bem espontânea e tenha sido algo riquíssimo, pois as crianças puderam perceber o como se usa e a necessidade dessas linguagens em diversas situações.
Outro ponto abordado foi a necessidade de se instruir precisamente as crianças. Elas precisam saber o que a escola espera e por que.
Concluindo os professores devem considerar a alfabetização sempre com uma função de socialização o que vai muito além do estabelecimento da relação de letra-som.
Destaco do texto uma citação: “Ao invés de reduzir a variedade de línguas aceitáveis para a aprendizagem da leitura e da escrita, as escolas deveriam assumir uma visão mais extensa e inclusive promover a alfabetização bilíngüe.” O texto demonstra vários exemplos em diversos países, mas trazendo para nossa realidade, para nosso país, isso me faz lembrar a questão indígena, que teve o uso da língua nativa reprimida e até proibida. Mas temos garantido por lei a educação bilíngüe.
LDB 9394/96 – Artigo 78:
“O sistema de Ensino da União, com colaboração das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integradas de ensino e pesquisa, para oferta de educação bilíngüe e intercultural aos povos indígenas, com os objetivos:
I- proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas, a valorização de suas línguas e ciências;
II- garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-índias.”
As mudanças no uso da linguagem acarretam em mudanças e desafios às identidades sociais. A prática escolar pode criar crises que produz um impacto negativo. Como mostra o texto, a juventude afro-americana resiste às práticas letradas por supor uma ameaça as suas identidades, assim também se sentem os indígenas. Pois a imposição da língua teve o objetivo de alienação da origem. E há esse temor nos tempos atuais. Um passo grande já foi dado, que é a criação da lei que garante a educação bilíngüe e outros vêm acontecendo para por este em prática.
Segue abaixo os vídeos que demonstram essa questão.
O texto desperta reflexões interessantes e não propagadas frequentemente. Com certeza de grande valia para formação de futuros professores, pois esses se colocam em um papel de suma importância de reprodução da sociedade. A partir dessas discussões que podemos fazer a diferença nos tornando críticos para com esperança buscarmos modificar a atual sociedade.
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